Entre um lauto café da manhã e outro, pouquíssima coisa acontece em “Viver a Vida”. A novela de Manoel Carlos apresentou bons momentos com o acidente de Luciana (Alinne Moraes) e o drama que veio depois: a maneira como ela se desligou de um gêmeo para, lentamente, ir se ligando a outro; o romance cheio de química entre Dora (Giovanna Antonelli) e Marcos (José Mayer) e, não se pode deixar de mencionar, as pequenas maldades de Rafaela (a sensacional Klara Castanho), sem que, infelizmente essa trama não se realizasse plenamente, mostrando no vídeo o que é um fenômeno bem conhecido: a existência de crianças perversas.
De um tempo para cá, as banalidades passaram a dominar de tal maneira a história que o fio se perdeu. Está difícil acompanhar as idas de Betina (Letícia Spiller) à academia com o único objetivo de lançar olhares lânguidos e piscadelas para Carlos (Carlos Casagrande), num romance que não chega a lugar algum. E as chantagens que Cida (Thaíssa Carvalho) faz com o patrão (Gustavo Airoldi), de tão repetitivas, se transformaram num simulacro de um quadro de humor fora de lugar. Há ainda os médicos invariavelmente jogando conversa fora no hospital. E aquele cenário chatíssimo da vila.
Pequenos acontecimentos cotidianos sempre existiram nas novelas de Maneco sem que isso fosse um demérito e sim um (bom) estilo. Só que, em “Viver a Vida”, estão fazendo falta aqueles diálogos primorosos, especialidade do autor que serve para calar os reclamões. Volta e meia há uma troca de ideias mais vigorosa entre mãe Tereza (Lilia Cabral) e alguma filha, em geral, Luciana ou Isabel. Mas é pouco.
Sei não. Ultimamente, o que mais emociona na novela não é a morosidade da ficção imitando o ritmo lento da vida real. É a vida real mesmo, que surge nos depoimentos finais de cada capítulo. Aquilo é muito bem-feito e captura o espectador. Só não é ficção. É reportagem.
Manoel Carlos, um escritor de mão cheia, desta vez deixou a novela estacionar.
7 de abril de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário